sábado, 24 de agosto de 2013

Luiz Lucas Lins Caldas Neto

Luiz Lucas Lins Caldas Neto (meu avô paterno) era poeta da velha guarda do Assu. Ele nasceu no povoado então denominado Sacramento, atual município de Ipanguaçu, importante município potiguar, fundado pelo seu avô Luiz Lucas que empresta o seu nome a uma principal rua da terra ipanguaçuense. Mas foi na terra assuense onde ele viveu a maior parte da sua vida e começou a poetar. Ele estudou agronomia na universidade de agronomia de Ouro Preto, Minas Gerais, trabalhou (década de trinta) na construção da estrada carroçável que liga Assu a Mossoró, foi funcionário do Fomento Agrícola, do Ministério da Agricultura trabalhando em Caicó, Mossoró, Natal e Ipanguaçu onde dirigiu a Base Física - Campo de Produção de Sementes e Escola de Tratoristas. Nas horas vagas dava-se o gosto de versejar. Ele está antologiado por Rômulo Wanderley, no livro Panorama da Poesia Norte-Rio-Grandense, 1965. Naquele livro, diz aquele antologista que Luiz Lucas "é tímido e modesto, não dando expansão aos seu estro, apesar de ter nascido bafejado pelos carnaubais da várzea do Assu e da sua terra natal." Luizinho, como era chamado pelos mais íntimos era filho de Luiz Lucas Lins Caldas e Maria Emiliana Caldas. Nasceu a 18 de fevereiro de 1908. O soneto intitulado Praia de Iracema é uma prova que "seu estro poético é dos melhores." Vamos conferir:

Linda praia de terra hospitaleira
Que é berço de Alencar e Iracema,
Decanta-te meu verso. Este poema
Quero que fale pela alma inteira.

O mar na sua luta sobranceira,
Da branca espuma fez seu diadema,
Anda por ti, a inspiração suprema,
Vibra por ti a glória prazenteira.

Na beleza solar destes teus dias
Sinto que canta com calor extranho
A alma dos ventos e das pescarias...

Os coqueiros são teus nesta arrancada,
E matinal teu saboroso banho,
És a febre da luz numa jangada.

Luizinho Caldas também gostava de fazer glosa "nome de uma composição poética, geralmente em décimas, desenvolvendo um tema (ou um mote) de um, dois e até quatro versos." Vamos conferir a glosa abaixo transcrita que por sinal é muito atual (que tem a intenção apenas humorística), que diz assim:

Mote

É pena o Brasil tão rico
Com tanto filho ladrão

Glosa

Só falta usar maçarico
Instrumento de arrombar
E opovo fica a clamar
É pena o Brasil tão rico.
Com essa gente eu não fico
Quero servir de espião
Mas, todo esforço é em vão
Rouba governo e prefeito
Para o Brasil não há jeito
Com tanto filho ladrão.

E estas outras como prova que ele era um bom glosador, conforme abaixo para o nosso deleite:

Mote

Eu não digo ela não diz
Quem é que pode saber

Glosa

Certa coisa que eu já fiz
Com uma jovem em segredo
Revelar até faz medo
Eu não digo ela não diz
É que eu quis e ela quis
Só podia acontecer
mais o bom é não dizer
Com quem isto aconteceu
Ela não diz e nem eu
Quem é que pode saber.

Mote

Em pobre tudo é defeito
Defeito em rico se encobre

Glosa

É vulgar este conceito,
Pobre mundo, eu não te entendo,
Por tudo que estou vendo
Em pobre tudo é defeito.
Pode o pobre ser direito
E o rico nunca ser nobre,
Mas, a quem lhe falta o cobre
Não lhe cabe uma censura,
No pobre tudo se apura,
defeito em rico se encobre.

Fernando Caldas

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